A Despedida

Aqueles que amam a Pátria devem, nesta hora em que alvorece o espírito nacional, despedir-se de todos os preconceitos. É hora em que só existe um preconceito, uma preocupação, um amor, uma certeza, uma esperança: — o preconceito, a preocupação, o amor, a certeza, a esperança da Pátria. Aqueles que deverão construir o Brasil, aqueles que deverão traçar os rumos definitivos de uma civilização latina e cristã, aqueles que se dispuseram a transformar em ação e realidade objetiva da História um pensamento político, baseado nos sentimentos de humanidade, na guerra aos partidos e aos poderosos arbitrários, na colaboração de todos os que trabalham e produzem, na elevação do brasileiro de todas as regiões e de todas as procedências, no princípio da autoridade, na consciência de hierarquia, na concepção de um Estado forte e isento de todas as influências estranhas; aqueles que querem pregar a virtude suprema da renúncia quando os homens se acotovelam para a conquista do poder, aqueles, enfim, que juraram fidelidade à sua geração, têm o dever de sacrificar tudo pelos compromissos assumidos com a sua própria consciência e para com as esperanças da Pátria.

Nesta hora grave, teremos de seguir as palavras de Cristo, quando dizia ao moço rico: — se queres caminhar no caminho da Verdade, abandona todos os teus bens, todas as tuas comodidades, os teus próprios pais, e segue-me.
Esta é a situação dos brasileiros de hoje. Aqueles que pensarem em cargos e posições não conquistarão a Pátria e não salvarão o Brasil. Desaparecerão no esterquilínio das competições estreitas que laceram todos os partidos e todos os grupos na hora presente. Apodrecerão a sombra dos fortes e dos poderosos do momento, E nessa geração divorciada da Pátria e da Humanidade, não restará senão a lembrança lembrança dolorosa que a História registrará mostrando ao Futuro a incapacidade, a impotência de homens desesperados, aflitos, ofegantes.

Todo aquele que não caminhar em função de um pensamento, que não caminhar com coragem, rompendo com todas os interesses da hora presente, não será um ser viril; será um eunuco. Não será uma criatura raciocinante: será um ente subordinado aos instintos.

Eis que se aproxima a grande hora para os destinos nacionais. A hora em que todos os ódios e todos os afetos devem morrer no coração dos homens. A hora em que o filho não deve reconhecer o pai, se este insiste em assumir uma atitude que fira de morte a Nação, a Família, a Moral, a Propriedade, os justos anseios das classes desfavorecidas, os justos reclamos da moral, as justas reinvidicações do Espírito.

Não é possível atitudes dúbias. Sacrifique-se tudo para salvar a Nação da desordem, da ruína, da politicagem, das intrigas do separatismo, do comunismo, da indisciplina, da falta de fé, da ausência de coragem cívica, da debilitação da moral, do apodrecimento do caráter.

Sacrifiquem-se as amizades, gratidões, pessoas, ódios, rancores, regionalismos, simpatias. Acabem-se as transigências. Estamos na hora da despedida.

Despedida dolorosa, mas impositiva ao caráter e à honra. Despedida comovente, mas gesto de virilidade e de audácia. Gesto de coragem moral. Atitudes de homens de bem. Atitude de filhos do Brasil. Atitude de soldados da pura doutrina da moral Cristã.
Nada detenha esta marcha da mocidade. Nada segue o moço impedindo-lhe o cumprimento do dever sagrado. Estamos vivendo uma hora suprema da nossa Pátria.

Abandonar os partidos, ou afundar com eles no lado, nos abismos. Abandonar os conchavos ou abraçar os ideais da Pátria. Estudar, trabalhar, prosseguir.

Marchar para frente, para a morte, para a ruína, ou para a vitória. Ou o Brasil vence com os moços, ou morre com eles.

Autor: Plínio Salgado. Retirado de “ACÇÃO”, 3 de Outubro de 1937.

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